O educador escreveu, nesta quarta-feira (22/10), ao advogado de Thiago Lênin Sousa, homem que o agrediu após orientar a filha a guardar o celular durante a aula
O professor agredido com nove socos pelo pai de uma aluna, dentro do Centro Educacional 4 do Guará, no Distrito Federal, divulgou uma carta aberta, nesta quarta-feira (22/10), endereçada ao advogado de Thiago Lênin Sousa, homem que o atacou após o educador pedir à estudante que parasse de mexer no celular durante a aula. O agressor deve responder por lesão corporal, injúria e desacato.
Na mensagem, o docente reflete sobre a desvalorização da profissão e o cotidiano difícil enfrentado pelos educadores da rede pública. “Após 25 anos ensinando em uma escola pública no Brasil, ‘sobrevivente’ seria uma palavra mais adequada a ser usada quando a população se refere a nós, professores. Mas o senhor resolveu se referir a mim como ‘professor’, entre aspas. Poucos têm ideia do que seja lidar diariamente com adolescentes, cujos interesses, muitas vezes, estão absolutamente distantes de qualquer conteúdo ou orientação que uma escola possa oferecer”, começa o educador.
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O professor também critica a falta de limites de alguns alunos e o distanciamento das famílias no processo educacional: “Muitos chegam à sala sem respeitar qualquer tipo de limite que deveria ser ensinado no ambiente familiar. Tratam seus professores como subalternos, inapropriados, inconvenientes, verdadeiros empecilhos para que vivam a vida como acreditam que devam viver. Aceitar um ‘não’ como resposta é inadmissível”.
Em outro trecho, ele lamenta que a sociedade e o poder público pouco se interessem pelo que acontece nas escolas brasileiras e dispara: “Só ganham visibilidade quando ocorre o que aconteceu comigo. Não se interessam pelo dia a dia estressante dos docentes, pela falta de estrutura e recursos que afligem alunos e professores. Aí, quando vem a tragédia, muitos correm para apontar o dedo para os culpados. Quem sabe a culpa é do ‘professor’, entre aspas?”
A carta termina com um apelo direto aos formuladores de políticas públicas: “Os críticos de plantão deveriam passar ao menos um dia frequentando as salas de aula do país afora. Assim, quem sabe, saberiam ao menos um pouco mais sobre o que estão falando”, finaliza.
Agressão registrada por câmeras:
O caso aconteceu na manhã da última segunda-feira (20/10). Câmeras de segurança registraram o momento em que o homem entra na sala da coordenação e desfere uma série de socos na cabeça do educador, que tenta se proteger enquanto é contido por funcionários.
Nas imagens, a filha do agressor tenta conter o pai, aplicando um “mata-leão” para interromper as agressões. Outras três alunas também presenciaram a cena.
Ao portal LeoDias, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) informou que uma equipe do Batalhão Escolar (BPESC) foi acionada por uma assistente disciplinar da escola. Quando os policiais chegaram, a situação já estava controlada, com os envolvidos em salas separadas.
O professor relatou ter sido atacado com socos e pontapés, mas não soube apontar o motivo exato. Já o agressor afirmou ter reagido após receber uma mensagem da filha dizendo que havia sido ofendida pelo docente. O desentendimento terminou em agressão física dentro da unidade.
Ambos foram encaminhados à 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), onde o caso foi registrado. Thiago assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), usado em crimes de menor potencial ofensivo.
Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal disse que a Coordenação Regional de Ensino do Guará acompanha o caso e que a Corregedoria da pasta irá apurar os fatos: “A Secretaria repudia qualquer forma de violência no ambiente escolar e reafirma o compromisso de garantir um espaço seguro, acolhedor e respeitoso para toda a comunidade”, diz o comunicado.


