Operação Coffee Break mira contratos suspeitos na educação e aponta atuação de Carla Ariane Trindade e Kalil Bittar para favorecer empresário preso pela PF
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (12/11) uma nova fase da Operação Coffee Break, que apura um amplo esquema de manipulação de licitações e desvio de recursos destinados à educação em municípios do interior paulista. Entre os alvos da ação estão a ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Carla Ariane Trindade; e Kalil Bittar, ex-sócio de Fábio Luís, o Lulinha. A investigação aponta que ambos atuariam para facilitar contratos públicos da empresa Life Tecnologia Educacional, cujo crescimento financeiro em tempo recorde chamou a atenção dos investigadores.
A Life, comandada pelo empresário André Mariano, apontado pela PF como articulador principal do esquema, experimentou uma evolução suspeita em seu capital social. Em maio de 2022, a empresa declarava R$ 300 mil. Menos de dois anos depois, o valor chegava a R$ 34 milhões, após saltos sucessivos para R$ 20 milhões e R$ 24 milhões nos anos intermediários. Segundo a PF e a CGU, essa escalada coincidiu com a obtenção de contratos milionários usando influência política e possíveis práticas ilegais.
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As investigações mostram que Carla Trindade, descrita pela PF como alguém que alegava ter facilidade de acesso aos bastidores do governo federal, viajou a Brasília em ao menos duas ocasiões com passagens pagas pelo dono da Life. Documentos revelam que ela atuava para defender os interesses da empresa junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e ao Ministério da Educação. Em agendas internas, era tratada como “nora”, numa referência direta ao vínculo familiar com o presidente.
Quanto a Kalil Bittar, aparece nos autos como figura-chave na “prospecção de negócios”. A PF sustenta que ele utilizava sua rede de contatos na capital federal para abrir portas a André Mariano, inclusive antecipando informações sobre licitações de municípios como Hortolândia, em São Paulo. Ele também teria recebido pagamentos da Life em sua conta pessoal após encontros relacionados ao esquema. Kalil é irmão de Fernando Bittar, coproprietário do sítio de Atibaia, local que esteve no centro de uma das ações da Operação Lava Jato. A investigação estima que o volume total de pagamentos sob suspeita possa ter ultrapassado R$ 111 milhões.
Um dos indícios que chamam atenção é o uso recorrente do termo “café” em conversas interceptadas. De acordo com a juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, responsável pela operação, essa palavra era empregada como código para “propina”. A PF identificou ainda transações em espécie intermediadas por doleiros. Só entre janeiro de 2022 e junho de 2023, R$ 10,3 milhões teriam sido sacados e repassados a interlocutores ligados ao suposto esquema.
A operação deflagrada nesta última quarta-feira (12/11) contou com 50 mandados de busca e apreensão e seis prisões preventivas nos estados de São Paulo, Paraná e no Distrito Federal, além do apoio da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Militar paulista. Entre os detidos está o vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César (PSB), que já exerceu funções políticas ligadas ao PT nos anos 2000. Segundo registros oficiais, Cafu esteve em pelo menos quatro reuniões com o chefe de gabinete do presidente Lula, Marco Aurélio “Marcola”, nos meses em que o esquema avançava.
A Operação Coffee Break segue em andamento. As investigações apontam possível fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, superfaturamento, tráfico de influência e pagamento por serviços não executados.
O que dizem os citados
A Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto foi procurada pelo portal LeoDias, mas ainda não comentou o caso.
Ao portal Folha de S. Paulo, a defesa de Carla Trindade informou que só se manifestará após ter acesso completo aos autos. Já o Ministério da Educação respondeu que as agendas da presidente do FNDE são públicas. Além disso, afirmou que as discussões com a presença de Mariano não tiveram desdobramento administrativo e que é feito repasse de verbas a estados e municípios, e não contratação de fornecedores de material didático.
Já a defesa do vice-prefeito Cafu César (PSB) negou ao portal g1 as acusações e contestou a validade das provas apresentadas na operação.
Quanto às defesas da empresa Life Tecnologia Educacional e de Kalil Bittar não foram localizadas. O espaço está aberto para esclarecimentos.



